Folha de Sao Paulo, 7 de agosto de 2010
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O plano da MPX, subsidiária do EBX para o ramo de energia, é investir no longo prazo US$ 4,4 bilhões (R$ 7,7 bilhões) na implantação da termoelétrica, em uma área litorâneajá comprada.
O projeto integral prevê a geração de 2.300 MW —o equivalente a 15% de toda a energia consumida hoje no Chile—para fornecer a distribuidoras locais. A usina é considerada estratégica para garantir energia à região nos próximos 15 anos e deve gerar 2.100 empregos durante o período de instalação.
Para ecologistas, o empreendimento irá destruir a fauna e inviabilizar o potencial turístico da região, além de prejudicar a agricultura e o cultivo de mariscos em aldeias próximas à usina.
O Olca (Observatório Latino Americano de Conflitos Ambientais), com base no Chile, também acusa a MPX de cometer irregularidades no licenciamento ambiental. Segundo o assessor jurídico da entidade, Álvaro Toro, houve uma alteração ilegítima em um parecer do órgão regional de saúde para viabilizar a aprovação do projeto.
Em 2009, o governo da expresidente Michelle Bachelet havia considerado o projeto “contaminante”, o que impediria sua instalação no local previsto.
Há dois meses, porém, as autoridades do novo governo de Sebastián Piñera aceitaram a reivindicação da MPX e mudaram a classificação para “molesto”, abrindo caminho para o licenciamento
Moradores da região recorreram à Justiça e argumentam que a mudança ocorreu fora do prazo. Para Toro, o governo de Piñera cedeu ao lobby da MPX e ignorou outros equívocos do processo.
Na mesma área, o grupo EBX também planeja construir um porto que, além de escoar minério de cobre e de ferro em direção à China, receberá o carvão mineral que irá servir de combustível à termoelétrica.
Para o Olca, os licenciamentos dos dois projetos deveriam tramitar juntos, mas foram apresentados separadamente por “má-fé”.
OUTRO LADO
A MPX diz que a termoelétrica de Castilla usará tecnologia adequada para minimizar as emissões de gases poluentes e que os índices não ultrapassarão 60% do limite permitido pela legislação. Segundo o gerente-geral da MPX no Chile, Pedro Litsek, a alteração no parecer contestado na Justiça resulta de um equívoco técnico reconhecido ainda no governo anterior e que apenas teve registro formal em junho.
Em relação aos processos de licenciamento da termoelétrica e do porto, a empresa diz que os dois tramitam separadamente porque são investimentos diferentes
Projeto divide comunidade agrícola local
O projeto da termoelétrica que a MPX pretende construir no norte do Chile dividiu os moradores da comunidade agrícola de Totoral, localizada na província deCopiapó, a 23 km do local previsto para a instalação.
Enquanto a maioria se diz contrária à usina, um grupo menor se converteu em lobista da empresa.
O vilarejo tem em torno de 2.000 habitantes, segundo líderes comunitários, e, desde 1634,mantém-secom a renda da pesca e da agricultura orgânica. Os camponeses cultivam 20 mil hectares coletivamente e produzem azeite de oliva e queijo artesanalmente.
Para Milton Morales, 48, diretor da comunidade, o modo de vida está ameaçado pela termoelétrica. “Nós vamos desaparecer como povo, porque a contaminação do ar e do ecossistema marinho vai acabar com nossas atividades”, diz.
Outra integrante da comunidade que resiste ao projeto, Fabiola Flores, 40, relata que um grupo de pescadores se tornou defensor da MPX e tenta convencer os demais a aceitarem a proposta de compensação.
Há uma semana, a comunidade rejeitou em assembleia, por 73% dos votos, a proposta da MPX, que oferece US$ 22 milhões (R$ 38,6 milhões) para investir emprojetos sociais e demitigaçãode impacto, alémde um terreno de veraneio para as famílias.
“Não queremos dinheiro. Eles tentam comprar alguns para dividir uma comunidade que estava trabalhando em harmonia havia séculos”, diz Flores.
A MPX afirma que há bem menos de 2.000 moradores em Totoral e que os camponeses estão barganhando para receber uma compensação maior.
Segundo o gerente-geral da MPX no Chile, Pedro Litsek, o pedido inicial da comunidade era de US$44 milhões como compensação, o que foi negado pela empresa. (GH)
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